Método Alexander, de reeducação psicomotora, contribui para bem-estar. Apesar de ainda pouco difundida no Brasil, a técnica vem sendo usada por aqui desde os anos 80

“As pessoas não decidem seus futuros. Elas decidem seus hábitos e seus hábitos decidem seus futuros”. A frase é do ator e declamador australiano Frederick Matthias Alexander, nascido no final do século XIX e que, devido a um problema na voz para o qual a medicina convencional não encontrou solução, desenvolveu um método de reeducação psicomotora que leva seu nome, a Técnica de Alexander, através da qual alerta para os danos causados pelo mau “uso” do corpo.

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A professora Karla Relvas e sua aluna há mais de 8 anos, Mônica Tereza (Fotos: Thiago Louza)

Apesar de ainda pouco difundida no Brasil, a técnica vem sendo usada por aqui desde os anos 80, ajudando atores, bailarinos, músicos, professores e o público em geral a observar e a reduzir a tensão provocada pelo excesso de força destinado à execução de movimentos simples, como andar, sentar, levantar, falar, que tendem a se tornar automáticos no dia a dia. É o que explica o professor, pioneiro da técnica no Brasil, Edmundo Dias.

Formado em Londres, em 1985, ele foi um dos fundadores e primeiro presidente da Associação Brasileira da Técnica de Alexander, da qual posteriormente se desvinculou e criou o Centro de Estudos da Técnica de Alexander (CETA), sediado em Botafogo.

“É uma técnica de reeducação do uso que o indivíduo faz de si mesmo, da sua estrutura física, muscular, e da sua estrutura emocional. Visa desenvolver hábitos mais saudáveis e menos destrutivos”, define.

Segundo Edmundo, o método, além de auxiliar na questão motora, prevenindo dores na coluna e nas articulações, e lesões por esforço repetitivo (LER), à medida que envolve o processo respiratório, embora não seja terapia, possui efeitos terapêuticos, sendo muito utilizado no tratamento da ansiedade, pânico e estresse.

“Quando se mexe com a respiração, se mexe com a emoção”, resume o professor, lembrando ainda dos benefícios vocais proporcionados pela técnica. Aliás, foi justamente devido a sua frequente rouquidão e falta de voz que Alexander, se vendo prejudicado em seu desempenho como ator, desenvolveu o método.

“Através da auto-observação, ele percebeu que era o ‘mau’ uso do seu corpo que causava o problema, percebeu que ao falar jogava a cabeça para trás, o que afetava sua respiração e, com isso, a emissão dos sons. Descobriu, portanto, que para um melhor desempenho dessa atividade era necessária a manutenção de uma relação adequada entre cabeça, pescoço e costas”, explica a terapeuta corporal Karla Relvas, professora do método no Spazo Pilates, em Icaraí.

Edmundo observa que se trata de uma técnica muito econômica, que pode ser feita apenas com um banco, parede e chão.

“Não é preciso maquinários especiais, o aluno trabalha movimentos cotidianos, auxiliado pela orientação verbal e toques sutis do professor”, destaca, acrescentando que a mesma pode ser praticada por pessoas de todas as idades, principalmente jovens, cujo corpo ainda não está enrijecido pelos vícios e maus hábitos diários, possibilitando, assim, a criação, desde cedo, de hábitos saudáveis para o corpo e para a mente, prevenindo efeitos negativos e, em especial, por profissionais que usam a voz e o corpo de maneira expressiva, como atores, professores, cantores, musicistas, atletas, e até dentistas, que “trabalham numa posição muito difícil”.

Karla enfatiza, ainda, que a técnica pode ser aplicada no cotidiano do aluno.

“Ele aprende a reconhecer os padrões de tensão e esforço desnecessários e a evitá-los, promovendo harmonia e bem-estar. Às vezes andamos como se carregássemos um monte de sacolas quando não estamos levando nada”, frisa a professora, que não indica a técnica apenas a pessoas em crise ciática e outras que causam dores intensas.

Entre os ensinamentos da prática, Karla destaca dois princípios básicos: o controle primário (a referida integração cabeça, pescoço, costas) e o processo de inibição, na qual o aluno aprende a “ir para as costas”. Foi o que aprendeu a sanitarista e professora universitária Mônica Tereza Christa, 55 anos. Ela lista segurança em lidar com o outro, redução do estresse, melhora na postura e na voz como benefícios alcançados.

“Quando a gente recebe estímulo de situação de conflito, a primeira coisa que faz é se contrair, provocando tensão desnecessária. Eu tinha uma tensão grande na musculatura do pescoço provocada por esse mau hábito, então aprendi que tenho que respirar, ‘ir para costas’, para só então responder esse estímulo de forma adequada, sem afetar meu corpo, sobrecarregá-lo. E posso dizer que hoje eu posso contar com o meu corpo para trabalhar, dar uma aula sem perder a voz”, relata Mônica, praticante da técnica há oito anos.

(Fonte: O Fluminense)